Atualização de mercado: análise econômica
Bem-vindos à nossa atualização semanal de mercado, onde analisamos os principais indicadores econômicos e tendências que afetam o cenário financeiro brasileiro e internacional. Este relatório traz insights para investidores e tomadores de decisão no atual contexto de volatilidade global e desafios inflacionários.
Apresentamos um panorama sobre os mercados internacionais, com ênfase nas recentes tensões comerciais e decisões de política monetária, além de uma análise do cenário econômico brasileiro, incluindo inflação, atividade econômica e perspectivas futuras.
Retrospectiva: mercados internacionais
Início da semana
Mercados reagiram positivamente às notícias de que tarifas "recíprocas" dos EUA poderiam ser menos abrangentes que o esperado, com possíveis pausas para diversos países.
Quarta-feira
Trump assinou ordem executiva impondo tarifas de 25% sobre importação de veículos não fabricados nos EUA a partir de 02/04, afirmando que tarifas "recíprocas" terão todos os países como alvo.
Final da semana
Líderes mundiais criticaram as medidas e começaram a avaliar retaliações comerciais, gerando um viés mais defensivo para os ativos financeiros globais. Os mercados internacionais registraram movimentos mistos, com S&P500 em queda, taxas dos treasuries de dois anos em baixa e de 10 anos em alta, enquanto o dólar recuou contra moedas de mercados emergentes até às 15h30min do dia 28/03.
Indicadores econômicos dos EUA
A leitura final do PIB americano do 4º trimestre de 2024 apresentou aceleração para 2,4% (anualizado), impulsionada por ajustes positivos nas exportações líquidas, gastos governamentais e investimentos empresariais. Os gastos dos consumidores, que representam dois terços do PIB, cresceram a um robusto ritmo de 4%. O PCE de fevereiro manteve o ritmo de aceleração tanto na agem mensal quanto na anual. O núcleo acelerou de 0,3% em janeiro para 0,4% em fevereiro, superando as expectativas. Na comparação anual, o índice avançou para 2,8%, também acima das projeções do mercado.
Perspectiva: mercados internacionais
Tarifas recíprocas
Os mercados aguardam com cautela o anúncio de tarifas recíprocas por Donald Trump, previsto para 02/04, que podem afetar "todos os países".
Mercado de trabalho
Expectativa para o relatório Jolts, ADP e Payroll, com previsão de desaceleração na criação de empregos em março (135 mil novas vagas).
Atividade econômica
Foco nos possíveis primeiros impactos das tarifas impostas na atividade americana, especialmente após antecipação de pedidos observada recentemente.
Tendência de mercados
Cautela deve prevalecer, com queda nas yields dos treasuries e bolsas, enquanto o dólar tende a se manter em alta. A semana será marcada pela ansiedade em torno das tarifas recíprocas anunciadas pelo presidente Donald Trump. Os investidores estarão atentos aos indicadores relevantes de atividade e do mercado de trabalho americano, que podem sinalizar os primeiros impactos das medidas protecionistas na maior economia do mundo.
Retrospectiva: mercado brasileiro
Governo federal
Publicou decreto com maior limitação na execução orçamentária para 2025, restringindo o uso de recursos provenientes da emissão de títulos do Tesouro Nacional para reduzir o risco da dívida pública.
Declarações de Haddad
O ministro da Fazenda confirmou o encerramento do Perse em abril após atingir o teto de R$ 15 bilhões em renúncia fiscal. Reafirmou apoio ao atual arcabouço fiscal, defendendo seu fortalecimento.
Declarações de Galípolo
O presidente do BC afirmou que, após colocar os juros em patamar contracionista "com segurança", está examinando dados econômicos para verificar se o aperto é suficiente. Mencionou que a curto prazo o Brasil precisará lidar com inflação acima da meta. Os mercados brasileiros apresentaram resultados negativos, com o Ibovespa em queda, juros curtos, médios e longos em alta, e o dólar se valorizando frente ao real. O cenário foi influenciado tanto pelos fatores externos quanto pelas decisões e declarações de autoridades locais.
Perspectiva: mercado brasileiro
Ambiente externo
Postura cautelosa dos investidores diante dos temores renovados com os avanços da agenda tarifária do governo Trump
Atividade econômica
Atenção a novos sinais da economia, com destaque para a produção industrial, alimentando o debate sobre os próximos os da política monetária
Temas fiscais
Mercado avaliando impactos de propostas recentes (IR e consignado privado) no consumo e possível diluição das medidas compensatórias.
Expectativas
Semana com viés de cautela, dólar se fortalecendo, curva de juros agregando prêmios de risco e Ibovespa embolsando parte dos ganhos. Esperamos uma semana marcada pela prudência nos mercados brasileiros, influenciada tanto pelo cenário externo desafiador quanto pelos desenvolvimentos domésticos. A atenção dos investidores estará voltada para os novos dados de atividade econômica, especialmente a produção industrial, que podem fornecer pistas sobre o estado atual da economia e influenciar as expectativas sobre os próximos os do Banco Central.
PCE: inflação persistente nos EUA
O índice de inflação PCE, métrica preferida pelo Federal Reserve para acompanhar a inflação, registrou 2,5% no acumulado em 12 meses e 0,3% na agem mensal de fevereiro, em linha com as expectativas de mercado. O núcleo do indicador, no entanto, apresentou variação de 2,8% em doze meses e 0,4% na comparação mensal, ambos superiores às expectativas.
O Fed utiliza o PCE como principal referência inflacionária por considerá-lo uma medida mais ampla, que se ajusta ao comportamento dos consumidores e atribui menor ênfase à categoria de habitação em comparação ao I. Os dados de fevereiro reforçam que os preços na maior economia do mundo seguem persistentemente acima da meta de 2,0%, justificando a cautela do banco central americano.
Mercado de trabalho brasileiro
A taxa de desocupação avançou para 6,8% no trimestre encerrado em fevereiro de 2025, resultado 0,7 ponto percentual acima do apresentado no trimestre anterior (6,1%) e 1,0 ponto percentual abaixo do observado no trimestre móvel encerrado em fevereiro do ano ado (7,8%). A população desocupada chegou a 7,5 milhões, avançando 10,4% no trimestre, porém recuando 12,5% no ano.
O rendimento médio real habitual dos trabalhadores acelerou para R$ 3.378, com variação de 1,3% no trimestre e de 3,6% no ano. A massa de rendimento real habitual atingiu R$ 342,0 bilhões, um novo recorde, com estabilidade no trimestre e crescimento de 6,2% no ano. Para 2025, com a expectativa de perda de ímpeto no crescimento econômico, projetamos que a taxa média de desemprego avance para 7,4%.
Inflação: IGP-M em março
Composição do IGP-M
IPA-M: queda mensal de 0,73% e alta de 9,89% em 12 meses
IPC-M: alta mensal de 0,80% e de 4,49% em 12 meses
INCC-M: alta mensal de 0,38% e 7,32% em 12 meses
A deflação observada no IGP-M de março foi mais intensa do que a esperada pela mediana da Bloomberg (-0,18%), reforçando a perspectiva de desaceleração ao longo deste ano. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV), o IGP-M registrou queda de 0,34% em março, representando uma redução de 1,4 ponto percentual em relação ao índice de fevereiro, que avançou 1,06%. O indicador acumula inflação de 0,99% no ano e 8,58% em 12 meses.
IPCA-15: pressão de alimentos e transportes
Alimentação e Bebidas
Avançou 1,09% no mês, contribuindo com 0,24 p.p. para o índice geral
Transportes
Variação de +0,92%, com impacto de 0,19 p.p. no resultado final
Resultado geral
IPCA-15 registrou avanço de 0,64% em março, abaixo das expectativas do mercado (0,70%)
Acumulado
Alta de 1,99% no ano e 5,26% nos últimos 12 meses. O IPCA-15 desacelerou na agem de fevereiro para março, conforme esperado pelo mercado, principalmente devido ao fim dos efeitos do rebote de Itaipu na energia elétrica residencial e do efeito sazonal no grupo Educação. Todos os nove grupos pesquisados registraram alta no mês, com destaque para Alimentação e bebidas e Transportes, que juntos representaram cerca de dois terços do resultado geral.
Setor externo brasileiro
As transações correntes registraram déficit de US$ 8,8 bilhões em fevereiro de 2025, ante déficit de US$ 3,9 bilhões em fevereiro de 2024. O déficit acumulado em 12 meses atingiu US$ 70,2 bilhões (3,28% do PIB), valor significativamente superior aos US$ 23,9 bilhões (1,07% do PIB) observados no mesmo período do ano anterior.
O expressivo aumento no déficit da Balança Comercial foi influenciado principalmente pela importação de uma plataforma de petróleo no valor de US$ 2,7 bilhões. Na conta financeira, os Investimentos Diretos no País registraram ingresso líquido de US$ 9,3 bilhões em fevereiro.
Relatório de política monetária
Cenário externo desafiador
O relatório destacou as incertezas nas políticas comerciais globais, a resiliência da economia mundial e processos de desinflação ainda não concluídos como fatores que tornam o ambiente internacional mais complexo.
Economia brasileira
Apesar da desaceleração do PIB no quarto trimestre de 2024, a economia cresceu 3,4% no ano, impulsionada por setores cíclicos e pela queda na taxa de desocupação.
Projeções de Inflação
O Relatório apresentou revisões altistas nas projeções trimestrais da inflação para 2025, 2026 e 2027 em relação ao relatório anterior, corroborando a avaliação de um quadro inflacionário adverso. As incertezas no cenário externo e doméstico continuam exigindo cautela na condução da política monetária. Entre os principais fatores que pressionam a inflação estão o aquecimento da atividade econômica, a resiliência do mercado de trabalho e a elevação das expectativas inflacionárias.
Projeções: 2025-2026 *
Projeções macroeconômicas indicam desafios crescentes para a economia brasileira nos próximos anos, com provável desaceleração em 2026.
Indicador 2025 2026
PIB (var. % a.a.) 2,2 1,5
Desemprego (% da PEA) 7,4 8,0
Câmbio (R$/US$) 5,90 5,90
SELIC (% a.a.) 15,25 11,50
IPCA (% a.a.) 5,4 4,0
Crédito total SFN (var. % a.a.) 8,3 8,0
*Fonte: BB Assessoramento Econômico - bb.com.br/analises
Irani Lassen
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